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PROGRAMA.

9H30 

Gustavo Vicente

Centro de Estudos de Teatro (FLUL)

 

Nota de abertura

9H45

Helen Thomas

University of the Arts London

 

Bodies Then and Now - Absent-presence: Social, cultural and aesthetic performances

 

This presentation will commence by thinking through a number of issues that arose from the emergence and establishment of what has been called ‘the body project’ (Shilling 1993) or ‘the corporeal turn’ (Sheets-Johnstone 2009). This was evidenced in social and cultural studies in the early 1980s and mushroomed in the 1990s, and included a burgeoning dance/performance studies eager to draw on new theoretical frames. For some, the turn to the body was sharp on the heels of the ‘cultural turn’ in the social studies and indeed, spoke to or of, the emergence of the ‘somatic society’ (Turner 1993), which was brought into being through significant shifts in late modern western cultural life, which will be briefly outlined. The turn to the body in social and cultural studies also witnessed the emergence of the distinction between performance and performativity in everyday life through the work of Butler (1990, 1993) which brought with it a fundamental challenge to the dominant sex/gender distinction in feminist research and the emergence of queer studies, leading to the questions such as ‘what is a body?’ Or indeed, is there a body with or without organs? (Fraser and Greco 2005).Or should we not just speak of ‘the body’ but of the diversity of ‘bodies’ and embodiment that people experience in their everyday lives? I will point to the over-theorisation of the body which led to a kind of absent-presence, in order to consider how perhaps this might be ameliorated by means of a more sustained approach that does not simply objectify the body out of existence, but seeks to work through the senses. The discussion will focus on the case of dance in the west, where the body in movement and stillness, space and time or duration, is the central medium of expression, representation and impression, in order to explore the kinds of challenges that practice might provide to the overly theoretical approaches that have haunted ‘body studies’.

 

11h00 Pausa para café
11H15

Maria José Fazenda

Centro em Rede Investigação em Antropologia (ESD-IPL)

 

Corpos reflexivos e críticos no seio de uma democracia recente

 

Se foi o 25 de Abril de 1974 que proporcionou a liberdade, a mobilidade, a expansão de saberes, a abertura ao exterior e, finda a censura, permitiu e favoreceu os modos de expressão e de representação individuais das visões do mundo dos criadores a trabalhar em Portugal, pode afirmar-se que, no que à especificidade da dança diz respeito, só depois desta data é que esta prática performativa se desenvolve no país. Será, no entanto, um pouco mais tarde, já no contexto de uma democracia estável e da integração de Portugal na Comunidade Europeia, no final dos anos 1980 e princípios dos anos 1990, que um conjunto de criadores independentes desenvolve o seu trabalho de forma livre, reflexiva e crítica e fazendo da cena da dança em Portugal um atlas de corpos singulares, mas dialogantes entre si e com os movimentos artísticos euro-americanos.

O carácter individual da assinatura e da visão do mundo de cada coreógrafo será indissociável do contexto artístico, sociocultural e político em que a respetiva atividade progride e a sua biografia se vai construindo. Partindo desta premissa, proponho-me convocar um conjunto de obras de criadores que de forma singular têm feito da arte da dança o locus do seu posicionamento social e político crítico, dando, através do movimento do corpo, visibilidade a experiências, a emoções, a ideias e a valores. Veremos como 1) Paulo Ribeiro fez do corpo um campo de batalha entre as forças do desejo e as da culpa; 2) de que modo Clara Andermatt lhe conferiu uma identidade mestiça e em constante transformação; 3) por que fez Francisco Camacho da instabilidade a sua linguagem; 4) de que maneira Vera Mantero, mais radical, questiona as possibilidades expressivas do movimento dançante e interroga o seu lugar de pertença no seio das artes performativas; 5) como Vítor Roriz e Sofia Dias expandem a linguagem do corpo, atribuindo ao gesto e à palavra o mesmo valor.

 

11H45

Fernando Machado Silva

Centro de Filosofia das Ciências (UL)

 

Encontrar a Vida, transformar o Mundo: Pensar uma existência ético-estética segundo o Corpo e o encontro na prática teatral e performativa

 

Das solicitações dos «pais fundadores» do teatro, aos gestos de revolta no pós segunda Guerra Mundial dos primeiros performers, no seu sentido restrito, passando pelos gritos prometeicos das vanguardas históricas, uma murmurada ideia anarquizante se enleia, coligindo um pensamento em torno de um modo de existência ético-estética, que talvez se possa resumir nessa frase proferida por André Breton, juntando Rimbaud e Marx: “Mudar a vida, transformar o mundo”. Mesmo se os seus apelos pouco ou nada inflectem e afectam a máquina abstracta a que estamos conectados – e que tão bem sabe reterritorializar qualquer experimentação, de tal modo que qualquer transgressão se democratiza perdendo o seu efeito transformador do socius, do homem e do mundo –, cremos ainda, por ventura ingenuamente, ser possível prosseguir essa tradição. Para tal, procuraremos dilucidar essa ideia propondo um novo entendimento do corpo, da experiência e do encontro (Deleuze, Bey).

Arriscadamente poder-se-ia afirmar que todo o espectáculo teatral e a performance, ou dizendo melhor todas as artes do corpo, buscam secretamente produzir uma comunidade, como um eco persistente da sua razão política, para lá do seu “contrato social” entre criadores e espectadores, seja este o da ilusão ficcional, ou da ilusória participação. No seu seio, imperceptível, espraia-se um encontro subtil de ritmos. Porém, nesse encontro há um patente desequilíbrio que impossibilita a própria criação da comunidade, semelhante à diferença que separa um corpo quotidiano de um corpo-extra-quotidiano (Barba). Iremos, portanto, argumentar que, quer o desequilíbrio, quer a separação, se podem esbater, se cada indivíduo se empenhar numa «catástrofe» (Deleuze) do corpo, das suas subjectivações e significantes, segundo uma ascética de práticas artísticas, que nada mais será que a potencialização do corpo despertando-o para os ritmos e os encontros. Um Corpo, ou seja, uma vida é a criadora de espaços do Acontecimento.

12h15 Pausa para almoço
14H00

Anabela Pereira

Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (IUL)

 

Da corporeidade entre corpos: liminaridade vs. continuum na performance

 

A performance, arte do corpo, inscrita em cruzamentos híbridos desde a sua origem, apresenta os seus limites, a partir da substância corpórea e, inerentes aos processos que conduzem às suas configurações, delineando interstícios de passagem, de transição, de confluência entre corpos. Esta comunicação incide numa reflexão sobre a corporeidade do performer e do espectador, a partir de diálogos com diferentes áreas do saber, como a arte, o corpo e a sociabilidade e, da observação dos padrões de interacção, na performance, como princípio metodológico. Pensa-se o sentido da corporeidade a partir da interdependência entre corpo-do-performer e corpo-do-espectador, com as respectivas implicações no espaço e sobre a configuração da obra, particularmente, na criação de zonas de inquietação, cisão ou confronto, campos de tensão ou transitoriedade, produzidos nas relações e na continuidade dialógica entre estes dois elementos estruturais da acção.

A liminaridade perceptiva entre corpos na performance gera improvisos a partir da presença e dentro dos limites desses mesmos corpos, impondo uma circularidade entre ambos. Esta é responsável pela obra enquanto produto final e, pelos sentidos da corporeidade que caracterizam o estado performativo do corpo em interacção. Enfatiza-se, assim, a importância de uma interacção específica centrada na corporeidade, com a actuação performativa do corpo do performer focalizada na percepção, sensação, expressão e memória corporais, e na ampliação dessa experiência e agenciamento de sentidos ao corpo do espectador, como uma continuidade integrante da obra – o performativo é uma construção dramática e contingente de sentido, observada na complexificação e ampliação da sua especificidade, decorrente da utilização do corpo do performer num continuum com o corpo do espectador.

No campo da performance, a fronteira da corporeidade focaliza ambos os corpos no espaço para inquietar as inter-relações entre estes dois elementos. E, encontra o tempo potencializado no corpo do performer, no movimento, na recriação e no devir, movendo-se entre polaridades – eu/outro(s). Trata-se de uma criação processual, que se desdobra em episódios de intensidades e fluxos corporais e subjectivos entre corpos, com temporalidades que intercalam círculo e devir, memória e reflexão, incorporação e excorporação. Neste acontecimento vivencia-se um espaço-tempo liminar, onde novas possibilidades existenciais são elaboradas. O corpo do performer estabelece devires e metamorfoses, transforma-se para outras existências, de encontro aos poderes do inconsciente e à criatividade imanente do espectador, ao universo imaginário de mitos pessoais e colectivos. Na extensão performativa dos corpos o simbólico é actualizado, irrompe a matéria e numa performance-acção desloca o espectador do lugar de mero observador para participante na construção da obra, estabelecendo uma continuidade entre as duas presenças, num campo particular de sentido.

14H30

Né Barros

Instituto de Filosofia (UP)

 

Corpo-com-direitos: Considerações sobre a forma e sua política nas artes performativas

 

O corpo-enquanto-problema constitui uma zona para pensar e fazer a dança e as artes performativas, em particular na sua expressão contemporânea. Este corpo demarca-se, desde logo, de um posicionamento clássico que tende a reduzi-lo a uma expressão funcional, a um suporte, a um meio fetichista, etc. E é, em parte, nesta demarcação que o corpo surge como um problema por oposição a uma visão programática do corpo performativo. De uma discussão ontológica a uma ética da forma, de um formalismo ao informe, traçam-se caminhos a partir dos quais emerge um novo corpo potencial que, ao mesmo tempo que nos permite perceber o gesto agudo da arte quando quer falar do mundo, permite-nos, igualmente, perceber um silêncio fundamental que é o silêncio face ao Outro. Ao longo da nossa conversa, iremos explorar estes territórios num vaivém entre teoria e algumas obras de dança ou de performance.

15h00 

Vera Mantero e João Fiadeiro

 

Conversa aberta

 

Vera Mantero e João Fiadeiro pertencem à geração de coreógrafos que deu origem à Nova Dança Portuguesa no final dos anos 80. Mantêm desde então uma capacidade invulgar para pautar o ritmo da procura (sempre inconformada) por novas sensibilidades artísticas no panorama nacional (e internacional) das artes performativas. Fazem das linguagens do corpo e do espírito (sem separação evidente) as matérias fundamentais de questionamento estético, não se confinando às convenções de criação artística, mas abrindo para outras (possíveis) leituras da vida e do mundo. São por tudo isto interlocutores privilegiados para partilhar connosco as suas experiências e pensamentos sobre o corpo, sob as várias perspectivas lançadas no encontro, e outras que a audiência queira abordar. A conversa terá a moderação de Gustavo Vicente.

16h00 Pausa para café
16h15 

Daniel Tércio

Faculdade de Motricidade Humana (UL)

 

O corpo em queda

 

A dança académico-clássica ocidental foi em grande medida fundada sobre a ilusão de leveza, mesmo que a atracção pela terra espreitasse nos mais variados bailados. Com a dança moderna, a terra ganha uma atracção renovada. Doris Humphrey fundou a sua linguagem coreográfica justamente sobre o arco da queda (em direcção à terra) e no seu oposto: na recuperação da verticalidade. A dança contemporânea europeia, influenciada pela experimentação dos americanos da Judson, utilizou desde cedo os procedimentos da queda, muitas vezes associada ao risco e à condição fragmentada dos quotidianos (por exemplo, com Wim Vandekeibus). Hoje há também, novamente, a exploração da queda como um radical processo de pesquisa coreográfica, tal como o faz o grupo brasileiro Cena 11. A queda torna-se aqui um exercício de resistência mas também a afirmação de uma outra qualidade nos movimentos dos corpos, tantas vezes associada à falha.Este estudo propõe portanto olhar a dança, não como desejo de voo, mas sim enquanto exercício da queda. Este exercício funda-se simbolicamente sobre o ofício de Prometeu. Ou seja, este exercício é sobretudo uma afirmação do humano, nos termos em que Nietzsche os enunciou.

16h45 

Sílvia Pinto Coelho

Centro de Estudos de Comunicação e Linguagens (FCSH-UNL)

 

«Dançar-Pensar» enquanto investigação e poética: Corpo #1

 

Quando, em 2010 propus a possibilidade de dançar-pensar como forma de ultrapassar um impasse, ou um bloqueio da consciência de um improvisador, não imaginei que essa reflexão fosse afectar a própria forma como vejo dança. Ou seja, enquanto espectadora, a exigência da partilha de uma questão aumentou, não do lado da definição da questão, mas antes na possibilidade de a sentir tornar-se pensamento partilhado. Entre 2010 e até ao fim de 2012 a relação com os trabalhos e com o pensamento de Erin Manning, José Gil, André Lepecki, José Bragança de Miranda, Lisa Nelson, Fernanda Eugénio e João Fiadeiro misturaram-se com algumas oportunidades de dançar-pensar-com. Algo confuso e difícil de articular, mas dançar-com alguém que dança-pensa separado de nós pelo palco é difícil, é raro, mas possível e precioso. Como explicar... Pode ser, por exemplo, uma das relações que estabelecemos com as várias relações que nos rodeiam (um sistema de relação de relações?)...

A memória de Nossa Senhora das Flores estava muito presente no discurso-corpo de quem viu a peça no seu ano de estreia (Camacho, 1993). Quando comecei a conhecer a dança de Lisboa nos anos 90 ouvi falar de Camacho e das suas peças, mas não vi Nossa Senhora das Flores, vi outras. No entanto, as danças que não vi corriam nos discursos e nos corpos das pessoas que ía conhecendo nos estúdios de Lisboa. O que andariam as pessoas a dançar-pensar? Quando Nossa Senhora das Flores foi apresentada no Citemor, no verão de 2012 foi uma dança nova com sabor a 20 anos de espera que pude ver. E apesar de toda a expectativa, pude dançar-pensar com ela em lugar de me acomodar a um pré-conceito, ou a um pré-afecto.

17h15 Espaço para debate
17h45 

Maria João Brilhante

Centro de Estudos de Teatro (FLUL)

 

Nota de fecho

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